quarta-feira, 28 de outubro de 2009

..:: LEITE DE PEDRA ::..

Entre arquitetos tem-se como verdade que não é preciso mais do que uma pequena obra para se comprovar a qualidade de um profissional. Isso é inteiramente verdade a respeito desta pequena casa realizada em Valencia, Espanha, pelo arquiteto Manuel Cerdá Perez.



Começando por um terreno quase impossível pelas suas dimensões (12x12m) − basta pensar que um terreno padrão em muitas cidades brasileiras varia em torno de 10x30m, o que representa mais do dobro da área disponível para essa casa − com dois dos seus limites bloqueados pelas paredes dos terrenos lindeiros.



O projeto resultante é admirável porque consegue evitar a sensação de confinamento que seria de esperar em um terreno assim. Isso é obtido porque a maioria dos espaços interiores abre para estreitos pátios laterais o que permite a ventilação e a ampliação das visuais. Outro aspecto interessante é o modo como o projeto tira partido da esquina, ao criar uma micro-praça de acesso à casa.



Tenho certeza que muitos leitores deste blog, acostumados a outro tipo de arquitetura, talvez estranhem certos aspectos dessa casa como a predominância do branco, a ausência de venezianas ou outros meios de escurecimento, a quantidade de vidro nas fachadas, a ausência de grades, etc. Muitas dessas soluções têm uma explicação arquitetônica enquanto outras só podem ser explicadas pelas diferenças culturais: embora conectados eletronicamente com o mundo todo, as peculiaridades de cada país ou mesmo região ainda são muito fortes. Como exemplo, basta pensar em como os brasileiros que podem comprar uma residência rejeitam uma planta em que os dormitórios abram para a sala, coisa que na Europa é aceita plenamente.



O que importa é poder perceber a qualidade do projeto e entender que essa mesma qualidade permitiria a adaptação de suas idéias principais a outros contextos e situações culturais.



Como se diz na gíria, aqui o arquiteto “tirou leite de pedra”.

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